Primeiros dias

Finalmente conseguimos acesso a internet e decidi atualizar nossa missão para você que nos acompanha em oração do Brasil.

Viajamos no domingo às 18h do aeroporto de Guarulhos/SP em vôo direto para Johannesburg (aprox. 9h no ar). Já no aeroporto da África do Sul, ao chegarmos identificamos uma plaquinha na mão de um moçambicano escrito "IASP - MISSÃO". Ao lado dele estava o Pastor Gilberto Araújo (Vice-Presidente da Southern Africa Indian Ocean Division) que nos recebeu com muita alegria e preparou um café da manhã mais que especial em nossa parada-tour rápida pela Divisão. (detalhe: a sobra do café se transformou em alimento para nossos 2 dias de viagem no ônibus)

Fomos transportados no ônibus moçambicano que alugamos (não é este acima). Falo moçambicano, pois em nada se parece com nossos ônibus no Brasil. As condições são sempre precárias. Alguns buracos no chão do ônibus e uma carreta presa a ele, que aparentemente, jamais conseguiria carregar toda nossa bagagem (incluindo doações, medicamentos, etc.)

Encaramos quase 24 horas no ônibus até cruzar a fronteira para Maputo. Um grupo de líderes foi enviado de avião direto para Beira, para que de lá fizesse todos os preparativos necessários para nossa partida para Munguluni. E trabalharam arduamente durantes estes dois últimos dias para nossa saída.

Como não pode faltar aventura em Missão Global, o pneu da carreta (novo, segundo nosso motorista André) não suportou o peso e rasgou inteiro na estrada. Estava anoitecendo e a temperatura era de 4 graus! A chuva começou forte e o vento fazia com que a sensação térmica fosse de 0 graus ou até algo negativo. Para aumentar a aventura, o motorista não tinha pneu reserva para a carreta e a chave de roda dele não servia. A decisão foi enviar as meninas e alguns rapazes para um posto de gasolina mais próximo em busca de ajuda e reparos nos pneus. Neste interim, os meninos ficaram guardando a carreta com todas as bagagens e enquanto aguardávamos debaixo de um guarda-sol improvisado, nos cobríamos e nos abraçavamos, cantando diversos hinos de louvor a Deus intercalados com orações espontâneas dos missionários.

O ônibus ainda ficou sem bateria lá no posto e uma correia do motor quebrou, mas tudo isto no posto! Deus sabe de tudo. Sempre dizemos que Ele é o Dono da Missão. O pneu furou para nossa segurança e para que a dependência começasse de maneira mais concreta.

A paz que aquele momento nos trouxe foi imensurável. O motorista estava realmente com frio e com as mãos praticamente congeladas, tiramos sua luva e todos aqueceram suas mãos. Enquanto cantávamos, ele se emocionou diversas vezes e pediu para orar. Depois confessou que estava temendo o que poderia acontecer e se sentiu aceito e protegido por nós. Disse que o que fizemos naquele dia será lembrado para sempre por ele, que afirma não ser tão bem recebido por outros tipos de missionários.

Para muitos a missão deu seu tom ali. Os depoimentos do grupo eram impressionantes. Sentimos a presença de Deus de maneira muito intensa e para a maioria do grupo a Missão Munguluni começou ali. Praticamente não dormimos neste dia até cruzar a fronteira para Moçambique.

O clima do ônibus era de louvor e adoração. Muitos oravam e cantávamos hinos e músicas de adoração sem parar um minuto sequer. Deus sabia de todas as coisas e celebramos sua Missão e Sua obra em nós e através de nós. (outro detalhe: agora toda a bagagem era obrigada a caber no ônibus e perdemos 8 assentos com isto, mas nada que desanimasse o ambiente dos missionários - foto abaixo)

Na chegada em Maputo, doamos a moto (0 km já comprada previamente) para o Pastor Zacarias (distrital que cuida de 11 igrejas e não tem meio de transporte) e na sequência tivemos um tempo de descanso e banho. Alugamos por uma noite a casa de nosso motorista Pedro (irmão do André) e até bolo deles ganhamos. Acordamos 2h30 da manhã e partimos para mais 20 horas de ônibus até Beira (que é de onde escrevo agora).

No caminho, cada parada ensinava uma poderosa lição. Viajar de ônibus pela África é uma experiência inesquecível. As pessoas nos rodeavam com curiosidade. O povo é realmente feliz em meio a toda a miséria. Encontramos um amigo adventista em uma parada, que reconheceu pelo logotipo da ADRA em nossa pick-up! Ele tinha uma alegria que nunca havíamos visto antes. É diácono da igreja e pedala 45 km todo sábado apenas para chegar a igreja. Perguntamos se ele havia almoçado (era por volta das 17h) e ele nos respondeu:  - Não tenho dinheiro! Decidimos pagar o almoço dele e dissemos: Escolha o que quiser comer hoje, você é nosso irmão. Ele pediu um prato com xima (farinha de milho que todo moçambicano ama, como nosso arroz e feijão) e frango com molho! Ele perguntou se podia pedir um refresco e pediu uma fanta laranja! Era realmente imensa a alegria dele por almoçar aquilo. Descobrimos tempos depois que o preço daquela comida é praticamente o salário do mês dele de trabalho. Ao sairmos de lá, vimos que ele se levantou da mesa e chamou um amigo para dividir com ele. (Nossos irmãos estão pelo mundo e como família, devemos cuidar uns dos outros como Jesus faria). Houve também uma cerimônia de batismo de criança moçambicana em que uma de nossas missionárias deu seu nome para a menina ao comprar uma capulana (roupa típica) e erguer o bebê em meio a comunidade local. Uma criança aqui agora se chamará Michele, como lembrança de nossa passagem por aqui!

Aqui estamos alojados no SAMO - Seminário Adventista de Moçambique. Um casal de brasileiros é missionário aqui (Fábio e Érika) e ajudaram o grupo menor que havia partido de avião antes, a organizar todas as compras de alimentação, câmbio de dinheiro, etc. Decidimos passar mais um dia por aqui para nos
fortalecermos fisicamente e encararmos os próximo 14 dias intensos de missão.

Isso foi realmente fundamental. Deus tem seu tempo e precisamos estar prontos para nos doarmos completamente lá. O grupo está muito alinhado e tremendamente espiritual. Todos contando de seu aprendizado até agora, demonstrando o desejo de viver este estilo de vida missionário no Brasil, etc.

Enquanto escrevo, o grupo acabou de jantar e já carregamos o ônibus e uma pick-up (que também alugamos ao abandonarmos a carreta com pneu furado). Faremos um culto agora e daremos algumas instruções e amanhã por volta das 3h30 am partimos para o último trecho de 8 horas até Munguluni (o vilarejo que passaremos o restante dos dias)

Partiremos em 25 pessoas (o Fábio e a Érika irão conosco auxiliar no evangelismo infantil) e estamos documentando tudo. Amanhã as equipes entram em ação após nos alojarmos lá. Faremos revezamento nas visitações e nas pregações das 10 noites de colheita. Teremos a equipe médica ativa em intervenções por lá. Evangelismo infantil com uma equipe já treinada. Construção de uma igreja para os locais e a restauração da escola das crianças (mais de 500). Tudo isto irá para o documentário que estamos produzindo e o foto book que realizaremos.

Deus realmente está trabalhando por nós, em nós, através de nós e além de nós e perceber isto é algo que não se pode medir ou descrever. A missão em seu cronograma, nem começou, mas alguns do grupo estão tomando sérias decisões espirituais e sinto que Deus irá levantar uma liderança em missão global deste grupo e que alguns dedicarão a vida para esta obra a partir de agora.

Este é nosso sonho para esta geração e faremos o que estiver a nosso alcance para partilharmos a benção de servir na Missão de Deus.

Você que lê este post e nunca se envolveu em um projeto como este, saiba que Deus está chamando você para entregar tudo o que é para a história de redenção que Ele está escrevendo no mundo. Deixe seu comentário, seu contato e envolva-se na missão de alguma maneira.

Orem muito por nós e na volta (daqui 10 dias) atualizamos novamente!

Contamos com vocês nesta missão. Sua intercessão é nossa certeza de vitória!

Munguluni nos aguarda!

Shalom!